terça-feira, 17 de junho de 2008

Brisa

Sair por aí sentindo a brisa do vento, curtindo a beleza no reflexo dos raios solares no mar é privilégio de poucos.
Poucos mesmo.
As pessoas não costumam apreciar esse tipo de sensação.
Ele também não apreciava muitas coisas que as outras pessoas julgavam importantes.
Vivia achando que nem sempre mais é mais.
As vezes menos é mais.
Dias epifânicos não são comuns.
Nem queria que fossem.
Dia desses, prestanto atenção no que o próximo dizia, passou a lembrar que ouvir era algo importante.
Para poder falar, ou se sentir nesse direito, deveria pensar que ouvir seria fazer justiça.
As epifanias não partem apenas de reflexões pessoais.
Os dizeres alheios também as causavam.
Há pessoas que não ouvem.
Apenas falam.
Falam de suas verdades.
Ou do que julgam ser verdade.
Não poderia ser intransigente.
Não era dessa forma.
Por isso, ao ouvir atentamente as palavras, que naquele momento causavam calafrios epifânicos na sua alma, ele refletia sobre o "ouvir".
Já havia pecado por falar.
E por não falar também.
Não vivia mais da forma de outrora, pensando no que as pessoas pensavam acerca dele.
Era importante apenas o que "pessoas" importantes pensavam.
Ouvir a todos é crucial.
Acreditar em todos, não.
Tudo parecia estar bem.
Mas àquelas palavras o faziam pensar em mais.
Que podia ser mais.
Que podia fazer mais.
Falava de força interior.
Não da força "secreta" de todos.
A força comum.
Falava da força incomum da nossa reflexão.
O divino era algo contemplativo, além de próximo.
Era impressionante como ele estava se sentindo mais forte.
Sentia-se bem e capaz.
Realmente a partir dali ele precisava pensar que sempre pode mais.
Ali, pessoas ao seu redor dormiam, conversavam, observavam as outras e ele ficava a contemplar àqueles dizeres de uma forma atenciosa.
Normalmente não o fazia.
Naquele dia acordou cedo, mesmo depois de poucas horas de sono.
Parecia premeditado.
Levantou rápido e revigorado pela responsabilidade de ir ao encontro de seus compromissos.
Tal compromisso soava estranho e fora da realidade até para ele mesmo as vezes.
Ao chegar sempre concluia que este era um dos seus mais importantes compromissos semanais.
O seu compromisso espiritual.
O crêr era algo fora de moda para muitos.
As pessoas costumam dizer que crêem apenas em si.
Cada um pensa o que quer.
Princípio do livre arbítrio.
Ainda bem que as pessoas são "livres".
Ou se julgam livres pelo menos.
Amigos fazem parte do que é crucial em sua vida.
Ali, sentia-se próximo de um grande amigo.
Daquele que ensinou a muitos um exemplo de retidão e dedicação à vida e ao próximo.
Agradecia e contemplava.
Julgava importante prestar atenção e absorver o que achava justo.
Furtava-se ao direito de falar.
Aquele era seu maior exercício.
Conheciam-o pelas palavras.
De alento.
E alegria.
Essas reflexões não podem passar como simples devaneios.
Devem ser interpretadas e refletidas dia-a-dia.
Existe algo mais forte que nós.
Era seu alento acreditar nisso.
Ainda bem que acredita.
É melhor assim.
Nesse emaranhado de palavras que formam importantes reflexões isoladas, que em conjunto traduzem uma simples idéia, ele se orgulhava se sua maior conquista naquele dia.
De que simplesmente deveria dar atenção ao simples.
Aprendendo a contemplar.
Sentir que na simples brisa que passa, há muito do melhor que nos é dado dia-a-dia.
A vida.

Um comentário:

Hérlon Fernandes disse...

Para compreender textos assim, é preciso de um dicionário que não existe nas bibliografias oficiais. Como se explicar o conceito de "um dia de epifania"? Coisas assim se sentem na alma - não existem compêndios que descrevam...

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