terça-feira, 22 de abril de 2008

Observador e observado

Nem tudo parecia tão calmo.
Talvez porque estivesse em um ponto onde ele próprio tomasse conta de suas predileções.
Uma bela recaída nos sentimentos secretos o faziam pensar em si.
Mas em si?!
Não pensava no que as outras pessoas o proporcionariam.
Pensava no que podia proporcionar a si mesmo.
Como que uma bela noite, em um local animado onde poderia realizar desejos.
Os seus, e os de pessoas desconhecidas a dançar.
A bebida o fazia pensar em tudo e todos.
Sentia-se desejado.
Desejaria alguém?
Talvez sim, mas sentia-se bem demais pra se doar por completo.
Talvez esse seria seu principal erro naquele momento de sua vida.
Havia passado sua vida a agradar as pessoas e achar que isso o agradaria por conseqüência.
Sentia-se "ótimo" para aquelas pessoas ao seu redor.
O som fazia com que as pessoas a sua volta dançassem freneticamente.
Não a ele.
Não se sentia culpado por não ter mais a antiga "responsabilidade" de agradar.
Havia escutado demais de alguns que não deveria mais agir assim.
Interessante pensar que algumas palavras soam como um remédio que faz efeito não na hora desejada, mas sim, algum tempo depois.
Ele pensava no que havia escutado sobre os seus limites, e que as pessoas não os respeitavam.
Como o passado poderia ser tão providencial?!
É muito mais fácil concordar com repreensões justas do que com atitudes impulsivas.
Fora por demais inconseqüente quando o pediam algo.
Queria estar sempre a postos.
Mas não se sentia justo exatamente por não estar respeitar a si.
Muitas pessoas o observavam.
Não só ali naquele local, onde o som regia o balanço dos corpos e das bocas.
Havia muitas se tocando e exigindo da próxima uma atenção desesperada.
Gostava daquele momento voyeur.
Gostava de ver os enlaces a sua volta.
De ver bocas fiéis e outras quase que fugitivas.
Sentia-se fiel a si mesmo.
Havia sido fiel.
Mesmo assim nenhum prêmio recebera.
Ele andava por entre as pessoas a pensar que era mais caça do que caçador.
Porém, sentia-se uma “caça” inteligente.
Só seria caçado se permitisse.
Não gostava de pequenas lutas nem de pequenas argüições.
Como se estivesse em um pedestal, e as outras pessoas nos degraus abaixo por não saberem contemplá-lo da forma merecida.
Alguém o observava.
Mesmo fora daquele local era observado.
Fora punido por não saber respeitar seus próprios limites.
Ele continuava a andar entre as pessoas a procura daquelas que o satisfaziam.
Não colocaria mais de lado aquelas pessoas.
Hoje seus passos são seguidos não somente por olhares.
Mas por pensamentos.
Sabia disso.
Ainda mais porque sabia o quanto queriam podá-lo de sua liberdade novamente.
Saberia lidar com isso novamente?
Há uma certeza vindo de dentro.
Sabia lidar com sua liberdade vigiada.
Não mais queria a pena da inconseqüência desnecessária.
Queria ser contemplado e não observado.
Ainda pagava caro por sua rebeldia.
Hoje não mais o é.
A rebeldia das pessoas chamava sua atenção.
Porém, sabia que não mais haveria de ser assim.
Encostado a um canto solitário ficara a observar todos.
Tentando transpor sua punição àquelas pessoas a sua volta.
Não pensava em nada mais, além do quanto poderia sentir-se rebelde por estar a observar os devaneios, os olhares, toques e beijos alheios.
De repente pegaram-no pelo braço e o levaram para onde queria ir.
Queria apenas ficar em paz.

Um comentário:

Hérlon Fernandes disse...

Meu amigo, a solidão acompanhada certamente é a mais triste, principalmente porque nos deixa impotentes, diante - às vezes - de uma massa humana que não parece merecer compartilhar das nossas idéias, dos nossos sentimentos... O ser humano tem se tornado esse ser triste, porque ninguém consegue viver só de instinto. Comungo de sensações iguais. Nossa escrita tem essa tênue semelhança. Abraços.

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